quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O analfabeto político

Posto aqui um texto bastante conhecido do Bertolt Brecht, que vem muito a calhar. Temos visto vários escândalos envolvendo nossos políticos e o que mais se tem é pessoa dizendo que pouco se importa pra política, e QUE NÃO TEM NADA A VER COM O QUE ESTÁ ACONTECENDO.

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe,
da farinha, da renda de casa,
dos sapatos, dos remédios,
dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e enche o peito de ar
dizendo que odeia a política.

Não sabe, o idiota,
que da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos
que é o político vigarista,
aldrabão, o corrupto
e lacaio dos exploradores do povo.


Foto de Bertolt Brecht - Divulgação

domingo, 13 de setembro de 2009

"Father and Daughter"



LINDO.

Animação do holandês Michael Dudok de Wit, que ganhou diversos prêmios quando foi lançado, em 2000, incluindo o Oscar de 2001 de Melhor Curta Animado.

Sinto saudades do meu pai... (e de todo restante da minha família)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Fragmentos ricos como a natureza amazônica



Acabei de ler o livro A Cidade Ilhada, de Milton Hatoum, lançado em fevereiro deste ano pela Companhia das Letras. O livro reúne 14 contos, dos quais seis são inéditos. Os outros foram publicados em jornais, revistas e coletâneas no Brasil e/ou no exterior.

Os contos de Milton Hatoum são ambientados em diferentes cidades, Paris, Barcelona, Berkeley, Rio de Janeiro... Mas é em Manaus e em toda a região amazônica que a maioria de seus diversificados personagens vivenciam suas tramas. Devido a isso, Hatoum nos passa detalhes da magnitude, riqueza e singularidade da Amazônia, e de forma muito sensível e humana. É um olhar genuinamente amazonense, que entende a dinâmica de sua terra natal, diferente do olhar de fora, que muitas vezes se perde em estereótipos e clichês dessa região ainda misteriosa e mística para tantos (inclusive para mim).

Com essa percepção humana, Milton Hatoum escreveu este trecho em um dos contos:

“... [Eu] divagava. E já não era jovem. A gente sente isso quando as complicações se somam, as respostas se esquivam das perguntas. Coisas ruins insinuavam-se, escondidas atrás da porta. As gandaias, os gozos de não ter fim, aquele arrojo dissipador, tudo vai se esvaindo. E a aspereza de cada ato da vida surge como um cacto, ou planta sem perfume. Alguém que olha pra trás e toma um susto: a juventude passou.”

Eu podia ter pego vários outros trechos exemplares do conhecimento regional do autor. No entanto, reproduzi esse – que não fala dos rios e florestas da Amazônia – mas sim da brevidade da juventude de forma que me faz ter medo de talvez perder a oportunidade de viver minha fase jovem “como se deve”, e daqui a pouco tomar um susto e repetir: minha juventude passou. Mas será mesmo que se tem uma regra, um modelo único para isso?? Acho que todos da minha idade vivem com esse impasse.

Para se pensar ou tomar conhecimento sobre várias outras questões, A Cidade Ilhada se faz ideal. Enxuta e direta, porém rica, a narrativa de Milton Hatoum faz dos fragmentos do cotidiano pílulas de reflexão e poesia ricas como a natureza da nossa Amazônia.


Foto de Milton Hatoum - Divulgação