sábado, 21 de maio de 2011

Paulo Nogueira e caso Palocci

Foto: reprodução

O ex-diretor das Organizações Globo, Paulo Nogueira (foto), concedeu hoje uma entrevista ao site Brasil 247 afirmando que foi Antonio Palocci, atual chefe da Casa Civil, quem levou pessoalmente ao alto escalão da Globo informações contra o caseiro Francenildo Costa, por meio de um falso dossiê, em 2006. Informações estas que serviram de material para a famosa matéria da revista Época em que extratos bancários do caseiro foram publicados, sugerindo que ele havia recebido propina para depor contra Palocci, então ministro da Fazenda do governo Lula, na CPI dos Bingos.

Não entendi uma coisa na entrevista em questão:

Paulo Nogueira disse que a revista Época, ao receber o dossiê elaborado pelo Palocci, tinha diante dela uma prova clara de um crime do Estado (quebra de sigilo) contra um civil (o caseiro) mas, em vez de denunciar este crime, preferiu publicar uma matéria baseando-se apenas no dossiê entregue pelo ex-ministro  -- sem apuração jornalística mais aprofundada --, expondo o extrato bancário do Francenildo e sugerindo, erroneamente, que ele havia recebido propina para depor contra Palocci, tudo isso para evitar um constrangimento.

Peraí, constrangimento com quem? Com o alto escalão do governo Lula? O que manda os preceitos jornalísticos: sugerir que alguém é culpado sem provas disso ou ignorar provas concretas de um crime cometido pelo Estado contra um civil? Queimar o caseiro sem provas não gerou constrangimentos?

Outra coisa que não entendo é por que só agora Paulo Nogueira ficou "indignado" com a leviandade do Palocci em levar o falso dossiê à família Marinho. Além de não ter ficado "indignado" na época, acatou o jogo do ex-ministro da Fazenda e publicou a versão dele dos fatos. Nogueira ainda fala na entrevista concedida à 247 que "só depois ficou claro que a revista Época foi usada como instrumento do ministro Palocci". Não posso acreditar que jornalistas de tão extenso currículo cairiam em uma manipulação tão primária como essa. Ainda mais se considerar que não é nem um pouco raro donos ou diretores de empresas jornalísticas receberem informações privilegiadas de políticos como moeda de negociação entre ambos.

Tudo me leva a crer é que esse Paulo Nogueira quer agora fazer papel de bom moço, denunciando Palocci com o argumento de que este não tem "qualificações morais necessárias para estar em um cargo importante", para talvez se beneficiar de alguma forma que ainda não sei.

Por favor, patrulha das opiniões rasas, eu não estou nem passando perto de defender Antonio Palocci. Eu só fiquei intrigada com essa entrevista do Paulo Nogueira. Pra mim, continua tudo muito feio pra revista Época, feio para esse Paulo, e mais feio pro Palocci, se é que tem como ficar mais, agora com as denúncias trazidas pelo jornal Folha de S.Paulo nesta última semana (aqui, aqui e mais aqui).

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